quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Heterónimos



Álvaro de Campos

Artigo principal: Álvaro de Campos

TABACARIA

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é

(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,

Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

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I am nothing.

I will never be anything.

I cannot wish to be anything.

Bar that, I have in me all the dreams of the world.

Álvaro de Campos: "Tabacaria" (The Tobacco Shop)


Entre todos os heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo da sua obra. Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo.

Começa a sua trajectória como um decadentista (influenciado pelo simbolismo), mas logo adere ao futurismo. Após uma série de desilusões com a existência, assume uma veia niilista, expressa naquele que é considerado um dos poemas mais conhecidos e influentes da língua portuguesa, Tabacaria. É revoltado e crítico e faz a apologia da velocidade e da vida moderna, com uma linguagem livre, radical.

Ricardo Reis

Artigo principal: Ricardo Reis

O heterónimo Ricardo Reis é descrito como um médico que se definia como latinista e monárquico. De certa maneira, simboliza a herança clássica na literatura ocidental, expressa na simetria, na harmonia e num certo bucolismo, com elementos epicuristas e estóicos. O fim inexorável de todos os seres vivos é uma constante na sua obra, clássica, depurada e disciplinada. Faz uso da mitologia não-cristã.

Segundo Pessoa, Reis mudou-se para o Brasil em protesto à proclamação da República em Portugal e não se sabe o ano da sua morte.

Em O ano da morte de Ricardo Reis, José Saramago continua, numa perspectiva pessoal, o universo deste heterónimo após a morte de Fernando Pessoa, cujo fantasma estabelece um diálogo com o seu heterónimo, sobrevivente ao criador.

Alberto Caeiro

Artigo principal: Alberto Caeiro

Por sua vez, Caeiro, nascido em Lisboa, teria vivido quase toda a vida como camponês, quase sem estudos formais. Teve apenas a instrução primária, mas é considerado o mestre entre os heterónimos (pelo ortónimo, inclusive). Após a morte do pai e da mãe, permaneceu em casa com uma tia-avó, vivendo de modestos rendimentos. Morreu de tuberculose. Também é conhecido como o poeta-filósofo, mas rejeitava este título e pregava uma "não-filosofia". Acreditava que os seres simplesmente são, e nada mais: irritava-se com a metafísica e qualquer tipo de simbologia para a vida.

Dos principais heterónimos de Fernando Pessoa, Caeiro foi o único a não escrever em prosa. Alegava que somente a poesia seria capaz de dar conta da realidade.

Possuía uma linguagem estética directa, concreta e simples mas, ainda assim, bastante complexa do ponto de vista reflexivo. O seu ideário resume-se no verso Há metafísica bastante em não pensar em nada. A sua obra está agrupada na colecção Poemas Completos de Alberto Caeiro. Álvaro de Campos
Vida: Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890, é engenheiro naval.

Estilo: Tinha um estilo de versos irregulares.


Ricardo Reis
Vida: Nasceu em 1887 no Porto, era médico e viveu muito tempo no Brasil.

Estilo: escrevia poemas de índole pagã mas num estilo de meia regularidade.




Alberto Caeiro
Vida: nasceu em 1889 e morreu em 1915, nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo, não teve profissão nem educação.

Estilo: Alberto Caeiro era instintivo e duo – consciente.




A poesia de Alberto Caeiro procura representar a natureza em si mas de uma forma objectiva, recorrendo a qualquer significado transcendental da realidade.
Caeiro, apologista de simplicidade total e do objectivismo absoluto, recusa doutrina e filosofia, ri-se das misticidades e só lhe interessa aquilo que capta pelas sensações. Pensa vendo e ouvindo, considerando que é importante aprender a não pensar uma vez que o pensamento metafísico deturpa a compreensão.

Conteúdo:
O realismo sendarial, com o sentido das coisas, reduzido há percentagem de com, da forma e existência.


2ª tópico


A importância da visão como a melhor forma de conhecer e compreender o mundo.


3ª tópico


A recusa do pensamento “Pensar é não pensar”



4ª tópico


O amor é natureza, que vê na sua constante renovação, acreditando na eterna realidade das coisas.





Importante:


Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, dai o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza.

Para Caeiro “Pensar é estar doente dos olhos ”, ver e conhecer e compreender o mundo.

Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, Caeiro dá especial atenção ao acto de Ver.

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