quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Síntese do poema "O Mostrengo"

1-Sintetiza o assunto do poema.
R: A acção deste poema é passada numa viagem de nau, nomeadamente no cabo das tormentas, durante uma noite escura, nessa viagem os tripulantes confrontados por um mostrengo que está no fim do mar e pretende atemorizar os portugueses para que não continuem a sua viagem. O monstro questiona a tripulação de que aqueles eram portugueses e vinham para conquistar os mares, não abdicando da sua missão.
2.1- Justifica o título do poema, referindo o processo de formação de
Palavras que está na origem do poema escolhendo pelo poeta. R: O mostrengo é caracterizado directamente por dois adjectivos “imundo e grosso”; indirectamente pelas suas acções, pois realiza movimentos circulares intimidadores e sitiantes à volta da nau. Sabemos também que vive em cavernas que ninguém conhece.
2.2- A palavra mostrengo é uma palavra composta por sufixação mostro + engo, este sufixo tem um valor pejorativo. Mostrengo significa
3- Concentra-te, agora, nas atitudes do “ homem do leme”.
3.1- Demonstra que as suas reacções ao discurso do “mostrengo” evoluem
em sentido crescente.
R: Na primeira estrofe “El rei D.Joao II” Na segunda estrofe “El rei D.Joao II” Na terceira estrofe “Linha 22 ate a 27”Às interpolações do mostrengo (primeira e segunda estrofe) o homem do leme começa por responder assustado, intimidado pelo o tom aterrador das palavras do mostrengo e pelo ambiente que o circunda, apenas com uma frase que invoca a autoridade do rei. Porém na terceira vez consciencializando-se de que não é apenas ele “Homem do leme” que ali está, assume-se como símbolo do povo e responde, em seis versos, com convicção e força.
4- Prova que ambas as figuras – o mostrengo e o homem do leme são
simbólicas.
R: O mostrengo simboliza os medos dos navegadores que enfrentam o desconhecido. O “Homem do leme” é a figura do herói mítico, símbolo de um povo e que, portanto, passa de herói individual a colectivo, com uma missão a cumprir.
5- Analisa o poema nas perspectivas morfo-sintáctico e semântica.
R: O número 3 é o número da perfeição da unidade divina; a totalidade a que nada mais pode ser adicionado
6.1- Identifica as três tipos de frase presentes no poema e explica o recurso
A cada um deles.
R:” Meus tectos negros do fim do mundo?”
“El-Rei D. João Segundo!”
“ O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;” Neste poema as frases declarativas estão ao serviço da narração e em parte do discurso do “homem do leme “. As frases interrogativas estão presentes no discurso do mostrengo e a frase exclamativa constam do discurso do “homem do leme”.
6.2- Indica dois recursos estilísticos e salienta o respectivo valor expressivo. R: Existem neste poema várias anáforas que pretendem reforçar o que é dito.O hipérbato do verso 26 reforça o sentido simbólico do “Homem do leme”.
6.3- Justifica o predomínio dos verbos neste poema e comente o recurso aos
Tempos em que se encontram.
7-Salienta as características que fazem deste poema um dos mais Marcadamente épicos da Mensagem.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

V Império



Os quatro primeiros impérios eram, segundo Vieira, pela ordem: os Assírios, os Persas, os Gregos e os Romanos. O quinto seria o Império Português.
Nas escrituras Hebraicas (Antigo Testamento), na Bíblia, Padre António Vieira veio a basear este mito num trecho bíblico, que conta a história do rei Nabucodonosor e do seu sonho, com uma estátua que possuía cinco tipos de materiais.
A utopia do Quinto Império permeia a obra de Fernando Pessoa também, no livro Mensagem.
No caso de Fernando Pessoa os quatro primeiros impérios diferem dos do Padre António Vieira, sendo o primeiro o Império Grego, o segundo o Império Romano, o terceiro o Cristianismo e o quarto a Europa.
O Quinto Império foi uma forma de legitimar o movimento autonomista português, que conseguira o fim da União Ibérica.

Mito do Sebastianismo


Assim como Camões também Fernando Pessoa defende a ideia do sebastianismo (Quinto Império). Logo podemos fazer uma análise comparativa entre “Os Lusíadas” e a “Mensagem”.
Ao ler-se as duas obras nota-se uma igualdade em certos pontos, Luís de Camões fala sobre os actos heróicos dos portugueses durante a época dos descobrimentos e também sobre a espera que D. Sebastião consiga levar este império.
Fernando Pessoa fala também sobre a época dos descobrimentos, época em que Portugal brilhava no mundo, em que tinha um grande império, e também fala de D. Sebastião, mas não como Camões, Fernando Pessoa fala dele de uma forma abstracta, fala dele para representar melhor a esperança que tem em Portugal, que este volte a ser o império que já foi um dia e que chega a ser o tão esperado Quinto Império.
A quem diga que Luís de Camões é o pai da Língua Portuguesa e que Fernando Pessoa é o continuador desse caminho. Que Fernando Pessoa seguiu a obra que Camões começou, continuou o seu “legado” só que de uma forma diferente de ver as coisas.

Simbologias associadas

Brasão – simboliza a nobreza imutável do passado;
Mar – simboliza a vida e a morte; o nascimento, a transformação e o renascimento;
Campos – símbolo do paraíso ao qual os justos acedem depois da morte; espaço de vida e acção:
Castelo – dada a sua habitual localização num lugar mais elevado, simboliza a segurança, a protecção e a transcendência;
Quinas – os cincos escudos das armas de Portugal reenviam para as cinco chagas de Cristo, adquirindo uma dimensão espiritual;
Coroa – símbolo de perfeição e de poder: promessa de imortalidade;
Timbre – insígnia que coroa o brasão, indicadora da nobreza de quem o usa, remete para a sagração do herói numa missão transcendente;
Grifo – ave fabulosa com a força e a sabedoria, o poder terrestre e celeste;
Padrão – monumento de pedra que os navegadores portugueses erguiam nas terras que iam descobrindo; simboliza o domínio e a propagação da civilização cristã sobre as mesmas;
Monstrengo – simboliza o desconhecido, os medos, os perigos e os obstáculos que os navegadores tiveram de enfrentar e vencer;
Nau – simboliza a força e a segurança numa travessia difícil; bem como o incitamento à viagem e a uma vida espiritual; prende-se, também, com a aquisição de conhecimentos;
Ilha – símbolo do desejo de felicidade terrestre ou eterna; do além maravilhoso; da sabedoria e da paz;
Noite – simboliza a morte; remete para um tempo de gestação que desabrochará como manifestação de vida;
Manhã – símbolo de pureza; de vida para paradisíaca, de confiança em si, nos outros, na existência;
Nevoeiro – simboliza a indeterminação, indefinição; o prelúdio da aparição.

Estrutura da Mensagem

A Mensagem é uma obra composta por 3 partes, Brasão, Mar Português e Encoberto, cada uma destas partes subdivididas em noutras: Brasão – 5 partes; Mar Português – 1 parte com 12 poemas e o Encoberto – 3 partes.
Na primeira parte, o Brasão: o princípio da nacionalidade em que fundadores e antepassados criaram a pátria.
Na segunda parte, o Mar Português a realização através do mar em que heróis com uma grande missão de descobrir foram construtores do grande destino da Nação.
Na terceira parte, O Encoberto, a morte ou fim das energias latentes é o novo ciclo que se anuncia que trará a regeneração e instaurará um novo tempo.

1.ª Parte
– Brasão –

I – Os campos
1. O dos Castelos
2. O das Quinas
II – Os Castelos
1. Ulisses
2. Viriato
3. O Conde D. Henrique
4. D. Tareja
5. D. Afonso Henriques
6. D. Dinis
7(I). D. João o Primeiro
7(II). D. Filipa de Lencastre
III – Quinas
1. D. Duarte, Rei de Portugal
2. D. Fernando, Inf. de Portugal
3. D. Pedro, Reg. de Portugal
4. D. João, Infante de Portugal
5. D. Sebastião, Rei de Portugal
IV – A Coroa
Nuno Álvares Pereira
V – O Timbre
A Cabeça do grifo: O Infante D. Henrique
Uma Asa do Grifo: D. João o Segundo
A Outra Asa do Grifo: Afonso de Albuquerque


2.ª parte
– Mar Português –

I – O Infante
II – Horizonte
III – Padrão
IV – O Mostrengo
V – Epitafio de Bartolomeu Dias
VI – Os Colombos
VII – Ocidente
VIII – Fernão de Magalhães
IX – Ascensão de Vasco da Gama
X – Mar Português
XI - A Ultima Nau
XII: Prece


3.ª Parte
– O Encoberto –

I – Os Símbolos
1. D. Sebastião
2. O Quinto Império
3. O Desejado
4. As Ilhas Afortunadas
5. O Encoberto
II – Os Avisos
1. O Bandarra
2. António Vieira
3. 'Screvo meu livro à beira-mágoa.
III – Os Tempos
1. Noite
2. Tormenta
3. Calma
4. Antemanhã
5. Nevoeiro

1.ª Parte
•Origem da nossa nacionalidade, destacando-se figuras míticas (“Ulisses” ) e históricas (“ D. Dinis” , “D. Sebastião, Rei de Portugal”, o sonhador, o lutador)

2.ª parte

•Apogeu dos Portugueses conseguido pelas descobertas:
– “ O Infante ”
– “ O Mostrengo ”
– “ Mar Português ”

3.ª Parte

•Fim das energias, simbolizado pelo nevoeiro que envolve Portugal.
•Vinca-se o mito sebastianista com a figura do Encoberto.
•Esperança e impaciência do poeta na vinda do Messias, para a construção do Quinto Império (“Quando é o Rei? Quando é a Hora?” – “Screvo meu libro à beira-mágoa” ).

Ilha dos Amores


Vendo agora a frota em segurança no seu regresso a Portugal, Vénus pede a ajuda do seu filho Cupido para juntar os amores e ferir as nereidas com as flechas do amor. Com as ninfas e Tétis sob esta influência, coloca uma ilha mística na rota dos portugueses, e a ela traz os amantes.

Podem ser Consideradas 3 descrições no episódio da ilha dos Amores

Primeira

O locus amoenus: o cenário onde decorre o encontro amoroso (estrofes 52 a 67 e mais algumas até ao final do canto) é típico do locus amoenus, com os seus chãos maciamente relvados, águas límpidas e cantantes, arvoredos frondosos e até um lago. O poeta fala ainda da simpática fauna que aí se cria e dos frutos que se produzem sem cultivo. É um cenário paradisíaco, idílico, de écloga.

Segunda

A alegoria: com um arrojo inesperado para um maneirista, Camões descreve o encontro dos nautas com as ninfas que os esperavam, industriadas por Vénus. O amor que experimentam é de paixão: imediato, arrebatado e carnal. E fica dado o recado aos que condenam a expressão mais física do amor: «Melhor é experimentá-lo que julgá-lo, Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.»
A recompensa dos portugueses tem um sentido alegórico: «Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas, Tethys e a Ilha angélica pintada, Outra cousa não é que as deleitosas Honras que a vida fazem sublimada» (estrofe 89). A terminar o canto, dirigindo-se ao leitor, reforça a intenção alegórica e incita aos feitos de valor: «Impossibilidades não façais, Que quem quis sempre pôde: e numerados Sereis entre os heróis esclarecidos E nesta Ilha de Vénus recebidos».

Estrofe 83

Ó que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã, e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.


Terceira

Leonardo: Camões, o indefectível cantor do amor, não quis, e se calhar não pôde, evitar que isso se reflectisse n'Os Lusíadas. Se os amores mal sucedidos do Adamastor deixam entrever o caso real do poeta, Leonardo (estrofes 75 a 82) aqui representa a consumação do seu sonho. Repare-se que as queixas deste navegante recordam as do poeta na lírica e como é um lamento delicado e belo.
Em um pormenor curioso, houve a intenção de separar e dignificar Vasco da Gama na carnalidade do episódio. É acompanhado por Tétis até a um magnífico palácio de cristal e ouro, enquanto os restantes marinheiros e as suas companheiras ficam nas praias e nos bosques.

Canto V




Vasco da Gama conta agora como foi a viagem da armada, de Lisboa a Melinde. É a narrativa da grande aventura marítima, em que os marinheiros observaram maravilhados ou inquietos a costa de África, o Cruzeiro do Sul nos céus desconhecidos do novo hemisfério, o Fogo de Santelmo e a Tromba Marítima, e enfrentaram perigos e obstáculos enormes como a hostilidade dos nativos, no episódio de Fernão Veloso, a fúria de um monstro, no episódio do Gigante Adamastor a doença e a morte provocadas pelo escorbuto.

O Adamastor



Podem-se considerar três partes no episódio do Adamastor, a primeira é uma teofania (estrofes 37 a 40). Chegados ao Cabo das Tormentas no meio da uma tempestade, os marinheiros avistam o titã, tão terrível que “Arrepiam-se as carnes e o cabelo A mi e a todos só de ouvi-lo e vê-lo”. Aqui está o puro pavor, a ameaça iminente da aniquilação, fisicamente sentida, as carnes engelham-se, os cabelos crispam-se.
O espectáculo é envolvente, grandioso, terrificante. Este semideus maléfico, encarnação dos perigos da arriscada travessia, precede-se de uma nuvem negra, que surge rasante sobre as cabeças dos navegantes. Mas mais surpreendente ainda é a orquestração que o mar faz com este elemento aéreo «Bramindo, o mar de longe brada, Como se desse em vão nalgum rochedo». O lado maravilhoso desta aparição também é acentuado, fazendo contrastar todo o espectáculo de disformidade e gigantismo com o cenário precedente, onde são manifestos os encantos de uma noite dos "mares do Sul", «prosperamente os ventos assoprando».
Então começa a segunda parte do episódio (estrofes 41 a 48), que em termos cronológico - narrativos é uma prolepse. O Adamastor fala e, como um oráculo, vaticina o destino cruel que espera alguns dos navegadores que atravessarão os seus domínios. É uma forma inteligente de o poeta dos meados do século falar de acontecimentos do passado, mas que seriam futuros para o navegador do início do século que faz a narração.
Finalmente surge uma écloga marinha (estrofes 49 a 59), que obedece a um desenvolvimento comum a muitas composições líricas de Camões: o enamoramento (de Adamastor por Tétis, não correspondido), a separação forçada (pela titanomaquia), a traição, o lamento pelo sonho frustrado, do qual o sofredor é constante e eternamente recordado: «Enfim, minha grandíssima estatura, Neste remoto cabo converteram Os Deuses, e por mais dobradas mágoas, Me anda Tétis cercando destas águas».

Passado mais este obstáculo, os navegadores agora enfrentam a doença, particularmente o escorbuto, e um clima a que não estão habituados. Apesar de um acolhimento cordial dos povos da África do Sul, o desânimo também aumenta por não haver quem dê notícias sobre a Índia. Até que, depois de Moçambique e Mombaça, a narrativa termina com a alegria da chegada a Melinde.

O canto encerra com a admiração dos melindanos por toda a epopeia portuguesa, e a censura do poeta pela iliteracia dos seus conterrâneos. Pela boca de Vasco da Gama, que lhe empresta legitimidade, conta como os poderosos do mundo, especialmente gregos e romanos, eram amantes das letras. E lamenta que os seus contemporâneos desprezem a língua, a poesia e o cantar e louvar de heróis e povos.

O Velho do Restelo


O canto termina com a partida da armada. Quando estão a despedir-se das famílias na praia de Belém, os navegadores são surpreendidos pelas palavras de um velho que estava entre a multidão. É o episódio do Velho do Restelo (estrofes 94 a 104).

Este personagem é a representação da contestação da época contra as aventuras dos descobrimentos. Havia quem pensasse que era puro orgulho e simplesmente suicídio tentar estes projectos de navegar para partes longínquas do mundo; uma perda de recursos e homens, que fariam falta na luta contra os inimigos mouros ou para a defesa do reino contra uma eventual invasão castelhana.

O episódio entrou no imaginário português. A expressão passou a significar o conservadorismo, o mau agoiro, a má vontade e a falta de espírito de aventura, frente a projectos originais que exigem alguma ousadia e gastos de recursos.

Inês de Castro


Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade:
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela com tristes o piedosas vozes,
Saídas só da mágoa, e saudade
Do seu Príncipe, e filhos que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava.

Inês de Castro, estrofe 124 do Canto III
O turbilhão de emoções continua com este episódio lírico-trágico (estrofes 118 a 135), talvez o mais reconhecido d'Os Lusíadas. Convém que se não perca de vista a sua integração no poema, via alocução de Vasco da Gama ao rei de Melinde. Costuma-se classificá-lo como lírico, distinguindo-o assim, sobretudo, dos mais comuns episódios bélicos.
D. Inês e D. Pedro são os amantes trágicos por excelência. O seu amor é ilícito, proibido pelos poderes. O poeta que tinha escrito sonetos tão sombrios, de sofrimento amoroso, chama repetidamente este de «puro amor», e censura o rei, de quem tanto elogiara os feitos guerreiros, por esta sombra no seu reinado.
D. Afonso IV pretende casar o filho que, apaixonado por Inês, recusa. A solução é eliminá-la. Trazida à presença do rei, esta implora pela sua vida, só para poder cuidar dos seus filhos. Comove o velho soberano, mas os conselheiros e o povo exigem a morte. E assim a frágil e bela apaixonada é assassinada «só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la» (por amar quem soube conquistar o seu coração).
Uma rápida análise do episódio permite encontrar aí presentes, com maior ou menor clareza, elementos trágicos como o destino, que conduz a acção para o final trágico; a peripécia; até algo próximo do papel do coro (apóstrofes). A nobreza moral e social dos personagens é também salientada, de modo a criar no leitor sentimentos de terror e de piedade perante a desgraça que se abate sobre a protagonista (catástrofe).
Quando Inês teme mais a orfandade dos filhos que a própria perda da vida, quando ela suplica a comutação da pena capital por um exílio na Sibéria (Cítia) ou na Líbia, entre «toda a feridade», só para poder criar os filhos do seu amor, quando é comparada com «a linda moça Policena, consolação extrema da mãe velha», quando o leitor escuta toda a estrofe 134, e mesmo a 135, estão-se a dedilhar os acordes da piedade.
Já os versos iniciais da estrofe 124, a apóstrofe com que termina a 130 (e antes a da segunda metade da 123) e a estrofe 133 estão ao serviço da sugestão do terror trágico.

Concílio dos Deuses


Neste momento, é convocado o Concílio dos deuses (estâncias 20 a 41) para decidir se os portugueses devem ou não conseguir alcançar o seu destino. Júpiter afirma que sim, porque isso lhes está predestinado.
Segue-se um tumulto, com os restantes olímpicos a tomar partido de Baco ou Vénus, até que o poderoso Marte se impõe, assustando Apolo num aparte (estrofe 37). O amante de Vénus, e admirador dos feitos guerreiros dos portugueses, lembra que não só já é merecido que consigam realizar a sua façanha, como Júpiter já tinha decidido conceder esse favor e não deveria voltar atrás na palavra. O rei dos deuses concorda e encerra o concílio.
O discurso com que Júpiter começa a reunião é uma acabada peça de oratória. Abre com o inevitável exórdio(1ª estrofe) em que, depois de uma original saudação, expõe brevemente o tema a desenvolver. Segue-se, ao modo da retórica antiga, a narração (o passado mostra que a intenção dos fados é mesmo a que o orador apresentou). Vem depois a confirmação: com factos do presente corrobora o que já, a seu modo, a narração comprovara (4ª estrofe). E termina com duas estrofes de peroração, onde se apela à benevolência dos deuses para com os filhos de Luso - aliás, a decisão dos fados cumprir-se-á inexoravelmente. Contra o que seria de esperar, Júpiter conclui determinando e não abrindo o debate.

O Héroi de " Os Lusíadas"


A importância que representa a figura de D. Sebastião para Luís de Camões está bem patente na Dedicatória, logo no início de Os Lusíadas. D. Sebastião é o garante da «Lusitana antiga liberdade», baluarte dos bons valores nacionais, monarca poderoso, predestinado por Deus e, acima de tudo, o líder da reconquista das terras que os Mouros haviam roubado.
Ao dedicar a D. Sebastião Os Lusíadas, Luís de Camões está a frisar a importância da figura de D. Sebastião na identificação de Portugal enquanto pátria com uma história gloriosa, mas, por vezes, não muito abonatória. Gloriosa, porque sendo Portugal um País pequeno, foi pioneiro num período fundamental para a Humanidade, como foi o do alvorecer do Renascimento, ajudando a romper com a Idade Média.
Luís Vaz de Camões não esqueceu o lado negativo, a degradação dos costumes, a ganância provocada pelo tesouro colonial e a exploração dos povos colonizados, fenómenos que constituíram parte das causas da concepção de desconcerto do Mundo de Camões.



Como o título indica, o herói desta epopeia é colectivo, os Lusíadas, ou os filhos de Luso, os portugueses. Nas estrofes iniciais do discurso de Júpiter no concílio dos deuses olímpicos, que abre a parte narrativa, surge a orientação laudatória do autor.
O herói da obra, os portugueses. Monumento aos Descobrimentos Portugueses em Belém, Lisboa, Portugal

"Eternos moradores do luzente
Estelífero pólo, e claro assento,
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento,
Deveis de ter sabido claramente,
Como é dos fados grandes certo intento,
Que por ela se esqueçam os humanos
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.

Início do discurso de Júpiter no concílio dos deuses, Canto I, estrofe 24.
Havia um ambiente de orgulho e ousadia no povo português. Navegadores e capitães eram heróis recentes da pequena nação, homens capazes de extraordinárias façanhas, como o «Castro forte» (o vice-rei D. João de Castro), falecido poucos anos antes de o poeta aportar na Índia.
E principalmente Vasco da Gama, a quem se devia o descobrimento da rota para o oriente numa viagem difícil e com poucas probabilidades de êxito, e que vencera inúmeras batalhas contra reinos muçulmanos em terras hostis aos cristãos. Esta viagem épica foi por isso usada como história central da obra, à volta da qual vão sendo contados episódios da história de Portugal.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Narração

Este começo da acção central, a viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, quando os portugueses se encontram já a meio do percurso do canal de Moçambique vai permitir:

A narração do percurso até Melinde (narrador heterodiegético);

A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama);

A inclusão da narração da primeira parte da viagem;

A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).

Os planos da narração

Os planos da narrativa são constituídos por:

Narração histórica - História de Portugal

Narração da viagem de Vasco da Gama

Narração mitológica - intervenção dos Deuses.

Estrutura Interna e Externa

Estrutura externa…
Um estudo que se pretenda minimamente rigoroso acerca do poema épico de Camões tem de começar, inevitavelmente, por uma análise da sua estrutura externa. E no que se refere a esse aspecto em particular, rapidamente concluímos que é um poema dividido em Cantos (dez Cantos para ser mais preciso), apresentando cada um deles um número variável de estrofes (que, no final, somam um total de 1102). De facto, podemos inferir que o Canto I tem 106 estrofes; o Canto II tem 113; o Canto III tem 143; o Canto IV tem 104; o Canto V tem 100; o Canto VI tem 99; o Canto VII tem 87; o Canto VIII tem 99; o Canto IX tem 95; por fim, o Canto X (por sinal o mais longo) apresenta-se com 156 estrofes.
As estrofes são todas oitavas, ou sejam, possuem 8 versos, que são na sua grande maioria decassílabos heróicos (acentuados na sexta e décima sílabas métricas).
Relativamente à rima, percebemos que ela não só existe como é simultaneamente cruzada e emparelhada, obedecendo ao esquema: a b a b a b c c (rima cruzada nos seis primeiros versos, e emparelhada nos dois últimos).
Estrutura interna…
Passando para a análise da estrutura interna da obra, a primeira conclusão a reter é que Os Lusíadas seguem, com bastante fidelidade, a estrutura clássica da epopeia. Depois, e não fugindo muito ao que acontecia com as obras do mesmo género, verificamos que ela se divide claramente em quatro partes distintas. São elas proposição, invocação, dedicatória e narração.
a) A proposição é a primeira dessas partes, e corresponde às estrofes 1 a 3 do Canto I. Nela, o poeta começa por declarar aquilo sobre o qual vai escrever, e que é, nada mais, nada menos, do que os feitos heróicos dos portugueses, as suas vitórias, conquistas e personagens mais ilustres (salientam-se os navegadores e guerreiros, que transportaram consigo a bandeira do Reino e da Fé aos confins do mundo; os monarcas que, na sua coragem e decisão, permitiram a dilatação do Império; e todos aqueles que, pelas suas obras e feitos, se imortalizaram e se tornaram dignos de admiração).
Na proposição é também possível descortinar todos os quatro planos que posteriormente vão marcar presença ao longo do poema (quatro planos diferentes mas estreitamente articulados entre si):
• o plano da viagem. Não podemos esquecer que foi esta aventura marítima que, acima de tudo, serviu de pretexto à elaboração da epopeia. Neste plano somos confrontados com a narração dos acontecimentos mais significativos da viagem de Vasco da Gama, desde a partida de Lisboa em meados de 1497, até ao momento do regresso. Pelo meio ficam as aventuras sofridas em Mombaça, Melinde, Calecute...
“Que da Ocidental praia Lusitana / Por mares nunca dantes navegados / Passaram ainda além da Taprobana”
• o plano da história de Portugal. Camões aproveita esta oportunidade para fazer uma revisão e uma síntese dos momentos que considera mais importantes e marcantes na história do seu País. Essa história é-nos narrada em ocasiões e por narradores diferentes: primeiro, é Vasco da Gama que conta alguns episódios ao rei de Melinde; segue-se Paulo da Gama que, em Calecute, faz o mesmo em relação ao Catual; depois, os acontecimentos posteriores à viagem são-nos narrados por meio de sonhos e profecias. Este plano é compreensível, na medida em que a intenção do poeta era enaltecer todo o povo português, e não apenas algumas figuras ou episódios.
“E também as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o Império, e as terras viciosas”
• o plano dos deuses e da mitologia. Camões imaginou uma forte presença dos deuses pagãos, que rivalizariam entre si e interfeririam na viagem dos portugueses.
“A quem Neptuno e Marte obedeceram”
• o plano do poeta. Luís de Camões não se inibe de expressar opiniões e conselhos, avisos e reprimendas, lamentações e comentários, muitas vezes falando na primeira pessoa. As considerações pessoais aparecem normalmente no final dos cantos e constituem, de um modo geral, a visão crítica do poeta sobre o seu tempo.
“Que eu canto o peito ilustre Lusitano”
b) Na invocação, o poeta pede auxílio a entidades mitológicas (conhecidas pela designação de musas), no sentido de estas lhe fornecerem toda a inspiração e engenho que a criação de uma obra literária desta envergadura exigia. Esta atitude era comum por entre os poetas clássicos, para quem a criação artística era fruto de uma inspiração exterior, vinda de fora, dos tais seres mitológicos e sobrenaturais.
Logo no início do Canto I, mais precisamente nas estrofes 4 e 5, assistimos à invocação das Tágides (ou ninfas do Tejo). Em outros momentos fulcrais da narração, a invocação reaparece: no Canto II, estrofes 1 e 2, faz um apelo a Calíope (musa da eloquência e da poesia épica); no Canto VII, estrofes 78 a 87, invoca as Ninfas do Tejo e do Mondego; no Canto X, estrofes 8 e 9, faz um novo um apelo a Calíope, sempre no sentido de conseguir a inspiração que tanto deseja para narrar as impressionantes aventuras dos portugueses.
c) Na dedicatória (que corresponde às estrofes 6 a 18, do Canto I), o poeta Camões dedica o seu texto ao monarca D. Sebastião, a quem tece inúmeros elogios e oferece alguns conselhos (particularmente no sentido de prosseguir as campanhas militares contra os infiéis, não só para que o triunfo da Fé e do Império sejam indiscutíveis, mas para que o próprio D. Sebastião se torna digno de ser cantado). Por outro lado, era no monarca que recaíam todas as esperanças e expectativas para dissipar quaisquer prenúncios de decadência.
Nota: ter em atenção que a dedicatória não costumava fazer parte da estrutura das epopeias clássicas.
d) No que toca à narração, esta constitui o núcleo central da epopeia, sendo basicamente a concretização de tudo aquilo que o poeta se propôs fazer na proposição. A narração começa no Canto I, estrofe 19, para só terminar no final do último Canto. Lado a lado, irão sendo narrados os episódios dos deuses greco-romanos (que, com toda a atenção, seguiam cada passo dos arrojados marinheiros), e a história da nossa Nação, desde as origens de Portugal ao rei D. Manuel; desde a viagem de Vasco da Gama às profecias dos deuses e sonhos das personagens (referimo-nos por exemplo ao sonho de D. Manuel, que levantava o pano sobre os eventos que aconteceriam no futuro).
Um último aspecto a ter em conta é que a narração, à maneira clássica, se inicia “in medias res”, isto é, quando a viagem de Vasco da Gama e seus companheiros já vai a meio (“Já no largo oceano navegavam”). O poeta decidiu assim não narrar os acontecimentos em sucessão cronológica, conferindo maior beleza ao texto, e evitando que ele se assemelhasse em demasia a uma crónica ou diário.

Fontes de Inspiração dos Lusíadas

Introduzindo um tema histórico, o poeta narra acções realmente acontecidas, tendo para tal recorrido a fontes diversas, nas quais históricas, estéticas e obras:
Históricas:
- Para a viagem do Gama e feitos no Oriente: os historiadores quinhentistas (Barros, Castanheda e outros).
- Para a Idade Média: os cronistas (Fernão Lopes, Zurara, Rui Pina, Galvão).
- História Trágico-Marítima.
Estéticas:
- As epopeias homéricas (a Ilíada e a Odisseia) sobretudo a Eneida, de Virgílio.
- Ovídio (sugestões mitológicas).
- Orlando Furioso do humanista italiano Ariosto (para a estrutura estrófica - oitava rima).
Obras de carácter cientifico (geógrafos antigos, etc.) e filosófico; Bíblia e Doutores da Igreja.

Biografia de Luís de Camões




Nasceu a 1524 ou 1525, segundo documentos publicados por Faria e Sousa, em Lisboa ou em Coimbra (a data e o local do seu nascimento não são certos). Segundo registo da lista de embarque para o Oriente do ano de 1550, declara-se que Luís de Camões se inscrevera e, nesse registo, é-lhe atribuída a idade de 25 anos.

O Padre Manuel Correia que o conheceu pessoalmente, dá-o nascido em 1517. Filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá Macedo, família nobre estabelecida em Portugal na época de D. Fernando, foi educado sob o império do Humanismo, estudou em Coimbra de 1531 a 1541, onde D. Bento de Camões seu tio, era chanceler.

Era esse mesmo seu tio sacerdote e sábio que o auxiliava nos estudos, mas ainda antes de Luís de Camões acabar o seu curso, partiu para Lisboa, talvez para conhecer melhor a principal cidade do seu país visto que gostava imenso da História de Portugal.

Reinava D. João II e, como Camões era fidalgo, podia frequentar as festas e saraus da corte no palácio real; e foi lá que conheceu aquela que ele queria que viesse a ser a sua esposa, D. Catarina de Ataíde.

Devido à rigorosa tradição da corte, Camões teve que se afastar desta linda menina a quem ele tratava por um nome inventado de Natércia nos seus muitos poemas consagrados, e foi exilado por ordem do rei para o Ribatejo (Constância), onde permaneceu durante dois anos até que se alistou como soldado e partiu para Ceuta.

Foi nesta viagem que Camões primeiro avaliou o esforço formidável de um povo audacioso (corajoso) e persistente, que foi capaz de vencer os difíceis obstáculos desta travessia, de forma pioneira.

Apesar de ter sido um grande poeta, foi também um grande patriota e um grande soldado. Defendeu Portugal tanto nas guerras em África como na Ásia. Em 1547, partiu para Ceuta depois de ter estado na corte de 1542 a 1545. Em Ceuta perdeu um olho quando lutava a favor de D. João III.

Três anos mais tarde voltou a Portugal e teve vários duelos, num dos quais feriu Gonçalo Borges, moço de arreios de D. João III, o que lhe custou um ano de prisão no Tronco. Diz-se que foi nesse ano de prisão que Camões compôs o primeiro canto da sua obra “Os Lusíadas”.

Obteve a liberdade como promessa de embarcar para a Índia como simples homem de guerra e embarcou para Goa em 1553, onde conviveu com o vice-rei D. Francisco de Sousa Coutinho e com o Dr. Garcia de Orta e manteve também relações amistosas com Diogo do Couto, o continuador das Décadas.

Foi aí que escreveu o “Auto de Filodemo”, o qual representou para o governador Francisco Barreto. Ainda na Índia compôs uma ode a D. Constantino de Bragança, em que o defendia de acusações supostamente falsas que lhe eram feitas. Da Índia passou a Macau, onde os portugueses tinham fundado uma colónia mesmo em frente ao mar. Aqui conheceu Jau António, companheiro que esteve sempre com ele até à morte e lhe fez companhia enquanto cantava em seis cantos os feitos dos portugueses numa gruta em frente ao mar.

Foi chamado a Goa mas, no caminho para a Índia o barco onde navegava naufragou junto à foz do rio Mekong, e diz-se que ele tenha ido até à costa a nado só com um dos braços, visto no outro levar consigo a sua tão próspera obra.

Foi a descida do Oceano Atlântico, a passagem do Cabo da Boa Esperança e todas aquelas paragens que levaram Camões a glorificar na sua obra os lugares por onde a armada de Vasco da Gama tinha já passado, lugares esses que muito custaram a "descobrir", razão ainda para dignificar o povo lusitano.

* Regressou a Lisboa em 1569 e, em 1572, publicou “Os Lusíadas”. Foi-lhe concedida por D. Sebastião uma tença anual de 15 mil reis que só recebeu durante três anos, pois faleceu no dia 10 de Junho de 1580 em Lisboa, na miséria, vivendo de esmolas que se dizia terem sido angariadas pelo seu fiel criado Jau. O seu enterro teve de ser feito a expensas de uma instituição de beneficência, a Companhia dos Cortesãos.

Após a sua morte, foi D. Gonçalo Coutinho que mandou esculpir na sua pedra o seguinte letreiro: “Aqui Jaz Luís de Camões Príncipe dos Poetas de seu Tempo. Viveu Pobre e Miseravelmente e Assim Morreu. - Esta campa lhe mandou pôr D. Gonçalo Coutinho, na qual se não enterrará pessoa alguma.

* A comemoração do dia da sua morte, é actualmente relembrado como o “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”, sendo feriado nacional.